terça-feira, 7 de julho de 2009

alcateia

Há lobos na minha aldeia
Uivam aos louva-a-deus e às salamandras nocturnas
Uivam
De fora para dentro
Até comerem a minha cabeça

Fico eu mulher-árvore, mulher-ameixa, mulher-estorninho
Feita em galhos, em caroços, em penas
Sem braços, sem pernas
Em devaneios lunares, atada até ao pescoço
Ultimando os preparativos para a festa
dos Cornudos
pelos nas costas, terra nas unhas, dedos na testa
Canudo canudo
Cruzes credo
Morre o sino, chora o alaúde
Dente de alho em jejum, pela minha saúde
Ai senhora do monte
Arde a grande casa
de quando eu era pequena
E as memórias fazem-se fumo
E as paredes fazem-se rua
Aldeia de mim
Alcateia de mim
Teia de mim
Ai senhora dos aflitos
Livrai-me do mal
de querer cozinhar
e não ter sal.

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